A compaixão leitura

Escrever é um ato de gente solitária. Do tipo de gente que não tem com quem tomar um sorvete domingo a tarde. Daqueles que só as meias aquecem os pés nos dias de inverno.
Escrever é um ato solitário. No qual o suporte branco anseia em ser preenchido, porque as palavras afastam a solidão. A esperança de leitura afasta a solidão.
O entendimento do autor e do branco, das palavras escolhidas, elegidas como mulheres, preciosas, únicas. As palavras fazem companhia ao branco.
Já ler é ver através de vários olhos. Ler não é solitário porque é feito a dois. Quem lê, escreve junto com o que já está escrito. Acompanha o branco, as palavras, a voz muda de quem escreveu.
Ler é um ato de compaixão, e escrever é algo desesperado. Ao acariciar o branco com os olhos, devorando palavras, deglutindo sentido e preenchendo espaços, quem lê se lembra de quem escreveu, que já não é tão sozinho.
E aquilo que é escrito só existe porque alguém irá ler. Senão pelos leitores se faz o texto, pois quem concebe sabe o que quer dizer, mas nem sempre sabe o que diz.
Cabe aos leitores afastarem a solidão, fardo dos autores mudos, que só no papel encontram um modo de dividir o sorvete e aquecer os pés.

Comentários

Postagens mais visitadas