Percebeu a morte na gengiva branca. Antes tão cheia de sangue, agora pálida. Morta. Nunca tinha visto a morte tão de perto. O corpo frio. O corpo que antes andava. Naquele momento era só, estendido no chão. Na mesma temperatura do chão.
Passou as mãos pela última vez na sua cabeça e ainda não conseguia entender o que sentia. A morte é mesmo cruel. Desorienta num primeiro momento.
Não é fácil aceitar aquele corpo ali, pesado, sem cor. Sem alma.
Deixou-se levar pela falta do fluxo no sangue. Entendeu como tudo parava. Tinha a mão sobre seu coração quando este parou. E de repente o corpo se larga. O sangue empossa nas veias. As veias paradas, o coração parado. A língua sem cor.
Olhou nos olhos daquela criatura que a pouco, assustada, pedia socorro e entendeu que a vida era isso. Somente o fluxo de sangue nas veias.
O amor que sentia por ela era ainda tão vivo e quente que queria abraçar e acolher. Aquecer aquelas veias, velhas, frias e mortas. Sabia que não podia.
Despediu-se, então, da grande amiga, que caminhou durante toda vida ao seu lado. Esta já sabia o que ela, só dali a alguns anos, iria descobrir.


à minha melhor amiga, que me ensinou muito sobre a vida e me fez entender o que era a morte.

Comentários

Anônimo disse…
Meu comentário será esse. Quando me deparo com textos como esse sempre lembro desse dia: http://www.ludmillarossi.com.br/blog/2007/09/20/o-dia-mais-triste-da-minha-vida/
Janaina disse…
Boa descrição, já senti isto mas nunca pensei como traduzir pro português

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