Gostava de observar o vaso de violetas na bancada. Passavam dias sem água naquele calor senegalesco e continuavam a florescer.
Aquele vaso de violetas roxas a intrigava. Às vezes achava desafiador o modo com que os botões de violetinhas a encaravam.
As violetinhas a violentavam.
Continuavam a brotar apesar de tudo. Não se importavam com a camada de ozônio, com o presidente dos Estados Unidos, com a conta no negativo, com o filho não querido, com os remédios, com as sessões de terapia, com a internet, com o xadrez de volta na moda.
Não ligavam para nada. Observavam silenciosas as crises nervosas da moça que as observava.
Nada tirava a paz daquelas violetas.
Dois dias antes do azul se tornar vermelho, resolveu que precisava de uma planta que fosse mais parecida com ela. Jogou o vaso de violeta no lixo e colocou uma Drosera Montana no lugar.
Pelo menos essa reagiria aos mosquitos que atrapalhavam sua noite.
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