Tinha vergonha do livro obsceno embaixo do braço. Nelson Rodrigues. Quem leu um, leu todos. Uma vizinha, um pederasta, uma tarada, um incesto. Gostava, porém da provocação de cada linha. Todas as palavras como um tapa. Uma agressão para aquela coisinha que não era nada além da mesma sempre.
Pensava que ninguém podia ser assim, um Nelson Rodrigues. Ter essa vida pornográfica disfarçada, mascarada. Dentro da cabeça não podia com uma mácula, um nojo. Não era visceral, não tinha fluído.
Queria ser seca, sem líquidos. Achava tudo molhado, impuro. Mesmo assim se deliciava com as palavras cortantes, mijadas dentro do livro.
Fechava a vergonha e andava com ela embaixo do braço, nua.

[to be continued]

lendo: o casamento – nelson rodrigues. (presente do namorado)

“o ato sexual é uma mijada”

"O casamento já é indissolúvel na véspera."