Com a mudança brusca de tempo e de humor não há pulmão que aguente. Diante do stress e da pressão, não me sobram muitas alternativas além de comprar o kit da natura contra as super rugas que estão por vir.
Domingo, calor, namorado dirigindo o curta [eu namorando um cineasta] e eu aqui, sentada, indagando-me sobre o papel do leitor e dos clássicos.
Bom, bem...foi o que escolhi pra vida, não foi.
O Camelo berra nos meus ouvindos afirmando que ele não é mto de ganhar. Nem eu Camelo...Nem eu....Mas vamos fazendo o melhor, não é mesmo.
Caso interesse alguém segue-se um conto que escrevi um dia desses. Estou procurando um espaço intergalatico para publicar meus gritos histéricos, caso vcs conheçam um bom e-zine sobre literatura interessado numa colunista....estou me oferecendo!

***

Encontrava-se estropiada após a queda do elevador (encontrava-se porque uma frase nunca começa com próclise). Com uma perna quebrada na altura do joelho e os braços para cima. Cara de quem aproveitou a queda, sorriso-montanha russa.
O barulho estrondoso do elevador se espatifando (já aqui não tem problema de usar a próclise, pois estamos no meio da frase) no chão não desviou a atenção da classe que executava a prova confusa de Sintaxe II (da qual fazia parte a moça estropiada), porém os demais alunos correram para o corredor afim de bisbilhotar o acontecido.
E lá estava ela, morta, torta, rindo. Com o livro de teoria de literatura ensangüentado ao lado e a bolsa amarelo-canário.
Pensar que há um minuto atrás estava na Copiadora, cometendo um crime contra os direitos autorais é banal. Mas estava. Xerocando mil páginas, copiando na folha branca, e pagara a metade do preço do volume original.
Ria da morte. Olhos estalados, estatelados, junto aos miolos. Moça cabeça aberta.
Murmúrios no corredor. Os bombeiros não demoraram a limpar os destroços. Bandida! Destroços de uma fora da lei.
O livro xerocando ficou lá na xerox, abandonado. Ninguém sabia do crime. Só ela, que ria. E que figura bizarra, toda arrebentada e sorrindo. A purpurina da sombra rosa iluminava o fim.
“E quando eu morrer, vou virar purpurina”. De fato, purpurina e mil pedaços. Coloridos pedaços de gente. Da unha rosa, do sangue púrpura-entranha, cabelo preto e casaco cinza.
O choque não abalou a sala de sintaxe II. Prova confusa, uma cadeira vazia. Mal sabia que ela (a moça) tiraria 7.25 caso chegasse a concluir a prova. Mas ninguém sabia.
Aquela noite às 10:30 não chegou em casa. Seus cacos se encontravam (e aqui? Próclise, mesóclise ou ênclise? ) perto da saída (ou da entrada da cidade. Nunca entendeu porque sempre saída, nunca entrada, sempre fuga). ODIAVA aquele lugar. Sujo. Logo ao lado o Areião, ou melhor, cemitério da filosofia, aguardava ansioso, baratas e adjacentes, seus restos mortais. Mortinhos.
Para o reconhecimento do corpo, o irmão (mais forte) se dispôs a fazê-lo. Esta unha é dela cor-de-rosa choque. E que choque. O pai, a mãe e o irmão. Brancos, pasmos, babando.
Caixão fechado, 2 coros de rosas, rosas, largadas uma aqui e ali.
Sempre tivera curiosidade em saber quem choraria no seu velório. A mãe, o pai e o irmão. Algumas tias, 2 amigos (distantes), o namorado, chorou sozinho, depois.
Foi enterrada numa manhã gelada, porém com sol.
E lá estava, enterrada e rindo. Esquecida, comida pelos insetos e os dentes amarelos sorrindo.
Metade da sua classe ficou de DP naquele semestre, e quanto ao livro, foi vendido no sebo da faculdade pela metade do preço da Xerox, R$5.50.


Comentários

Postagens mais visitadas