Tem dias que eu falo mais comigo do que o normal. Mas não é um falar, é como ler um livro que está escrito em mim, e que de vez em quando eu viro uma página e compulsivamente vou lendo lendo lendo até chegar ao lugar que estou indo. Esse livro meu de mim é uma compulsão, mas não sei como desviar os olhos de dentro. É um movimento autista, como se nada fora importasse. Então eu vou tropeçando nos meus pensamentos e nessas horas queria ter um papel, uma caneta, um gravador.
Nessas horas eu imagino se existem outras pessoas se lendo como eu, ou se isso é o início de uma loucura qualquer. Penso que a Virginia Woolf deveria ler a realidade, ela e a Ana Cristina Cesar. As duas se mataram. Acredito que foi o cansaço de ler um livro que nunca chega ao fim. Dá uma angústia, um desespero. Uma vontade de arrancar certas páginas enquanto atravesso na faixa de pedestre, enquanto vejo os carros parados. É como arrancar um braço que não parece ser seu. É querer se virar do avesso.
E nem mesmo de cabeça para baixo eu consigo deixar de ler. Um milhão de palavras escritas na parede da frente enquanto todo o sangue do meu corpo vai para cabeça. Você medita, você compra, assiste TV, se apaixona. Mas você nunca se esquece. Não para.
Nesses momentos eu não tenho vontade de falar, é só um desejo de ler a última linha que não chega não chega. Nunca.

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